quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Imagino-me a envelhecer…

Imagino-me a envelhecer… numa casa de campo, com alpendre, perto do mar, um terreno de árvores de fruto, trilhos de terra, e um lago. A Costa Alentejana será o nosso refúgio…

(...ainda não aconteceu!)

Mês de Abril do ano 2042. Fiz 66 anos há dias atrás. No último fim-de-semana tive um presente esplêndido com o almoço de família para festejar o meu aniversário. Eu, C, os nossos três queridos filhos, o nosso genro, e o nosso lindo neto. Depois de todas aquelas sensações de agitada felicidade, voltamos agora ao prazer da felicidade tranquila.

Sentado na cadeira de baloiço do alpendre, olho o lago maravilhado pelos reflexos que a luz do sol produz na água. Vejo a mesma paisagem de todos os dias e sempre como se fosse a primeira vez. Levo a caneca do chá aos lábios e sorvo um pequeno gole. Sinto Lenny, o nosso fiel amigo e companheiro de quatro patas, aproximar-se. Senta-se ao lado da cadeira aguardando que a minha mão pouse na sua cabeça, como é habitual.

C dorme tranquila no conforto do nosso quarto. Tal e qual como na manhã após a noite que aqui dormimos pela primeira vez. Há trinta anos atrás. Também dessa vez eu acordei antes dela. Não consegui vencer a ansiedade de poder assistir ao nascer do sol do nosso alpendre. Adorava que C o fosse partilhar comigo, mas não tive coragem de a acordar. Cerca de dez minutos depois, para minha surpresa e alegria, juntou-se a mim.

Perdido nas minhas memórias levanto-me e entro em casa. Lenny segue-me colado ás minhas pernas. Pouso a caneca na mesa da cozinha e dirijo-me ao quarto. Abro a porta e espreito. Vejo que ela ainda dorme. Observo-a por um breve momento e depois encosto a porta levemente.

Saio para a rua com Lenny sempre no meu encalço. Seguimos pelo caminho em direcção ao lago. Lenny distrai-se com pequenas perseguições aos insectos que vamos encontrando na vegetação. No fim de cada uma regressa para junto de mim e salta em minha volta. Agacho-me para o presentear com uma sessão de festas. E assim o nosso passeio matinal vai chegando ao fim. Estamos de novo em frente ao alpendre.

Vejo C sentada na cadeira de baloiço. Acena-me a sorrir. Retribuo-lhe o sorriso. Lenny adianta-se na sua direcção. Subo os degraus do alpendre e chego junto dela. Digo-lhe “Bom dia!”, enquanto lhe estendo as papoilas que apanhei, acompanhadas de um beijo.

1 comentário:

IV disse...

Envelhecer acompanhado é uma benção que nem todos têm o privilégio de conseguir. É como subir ao cume do Everest mantendo intactos a ponta do nariz e dos dedos.

Torna-se necessário remar constantemente até à margem que é outro, mesmo com correntes adversas, semear doçuras a cada instante, abandonar-se e saír de si, vestir a camisola pela equipa da família.

É a empresa mais difícil da existência humana, por isso encerra em si mesma o Sonho.

O Sonho de criar e saber criar laços apertados e duradouros.

É tocante, a pureza e simplicidade de um desejo tão profundo...