terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O aniversário

Ontem. Jantar de aniversário de CC-(de)ilusão, nas docas. Combinei ir com L, uma vez que o Smart dele é bem mais fácil de estacionar que o meu Defender. Chegados juntámo-nos ao grupo que aguardava à porta do restaurante. Depois lá dentro escolhemos lugares perto do centro da mesa. Eu e CC ficámos lado a lado.

O momento, sempre alto, da entrega e desembrulhar das prendas ocorreu entre o pedir e a vinda dos pratos. A panóplia das prendas do costume, livros, CD`d, DVD`s, colares, brincos, peças para a casa, flores, etc, etc. Da minha parte, desta vez, optei por um vaso, terra e sementes. Amores perfeitos. Um postal, que mais não era que uma cartolina branca, dobrada, com uma rosa vermelha impressa e, por fora a mesma rosa colada. Escrevi: “Amores perfeitos. Para que nasçam precisam de semente. Para que vivam apenas têm que ser cuidados.”

Senti que lhe agradou. A certa altura do jantar chegou-se a mim e perguntou-me baixinho ao ouvido:

- Achas que podemos ser as sementes para o vaso?

Não fui capaz de lhe responder. Na verdade porque soube o que dizer. Surpreendido apenas fui capaz de lhe sorrir. Inclinei-me para lhe dar um beijo na face. Ela desviou-se e beijou-me nos lábios com suavidade mas cheia de firmeza. Depois ficámos algum tempo num abraço intenso.
Fiquei surpreendido, agradado e, ao mesmo tempo assustado. Parece-me que algo pode voltar a acontecer e eu não tenho a certeza de o querer… mas também não tenho a certeza de não o querer.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Rir e Chorar

“Mantém a cabeça erguida, sorri, e deixa-os na dúvida sobre que segredos te fazem rir.”, Dan Brown, em “Anjos e Demónios”

Não deixo que ninguém veja que choro. Rio por fora mesmo que rebente de tristeza por dentro. Não serão muitas as pessoas que possam dizer que me sinto infeliz. Mas sinto. No entanto rio. Se chegar ao fim dos meus dias sem que possa afirmar ter sido feliz, pelo menos não morrerei sem ter conhecido o que é o riso. Escondo a minha tristeza para, também, que não sinta que sentem pena de mim.

Mostro-me forte quando sou fraco, paciente quando sou irritável, atencioso quando me apetece ser indiferente, carinhoso quando me apetece ser agressivo. Caminho de cabeça levantada, de peito feito, cara lavada, bem cuidado, e sorrio sempre que posso. Sou alegre, sociável, com sentido de humor e oportunidade. Mas não sou totalmente feliz. Quando fico sozinho caio. O riso apaga-se e as lágrimas mostram-se. Encolho-me. Dói-me o peito e morro mais um pouco. Sinto-me perdido, sem rumo, sem motivos para seguir. Sinto saudades. Sinto falta da verdadeira companhia. Sinto que tenho nada. E quando assim somos qualquer coisa, por pouco que seja, muito se torna.

“Quanto mais fundo a dor escavar o vosso ser, mais alegria caberá em vós.”, Khalil Gibran, em “O Profeta”. Mas pergunto: Quando será o meu ser inundado pela alegria?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Benfiquismo


No domingo passado tive, de novo, a felicidade de estar presente no estádio da Luz e assistir a mais uma vitória do Glorioso. Desta vez permitiu que continuemos com legitimas esperanças em ganhar a Taça de Portugal. Por enquanto somos tão candidatos quanto todos os outros que ainda estão em prova.

Os 4-1 do resultado final, foram o embelezar do jogo feio e pobre a que, em momentos, se assistiu. Claro que para a história fica o resultado volumoso, e claro que gosto de ver o Benfica ganhar, mas também gosto de ver os nossos jogadores fazerem exibições de levantar as bancadas.

No entanto as minhas palavras aqui hoje têm o objectivo de prestar homenagem a Rui Costa e ao benfiquismo. Tenho pena que não tenha sido jogador do Benfica no auge da sua carreira. No entanto compreendo que a sua saída, e regresso para terminar a carreira, tenha sido o percurso normal que qualquer profissional com a sua grande qualidade teria.

Neste jogo admirei a boa prestação que exibiu na 2ª parte, com um golo e algumas jogadas a empolgar o público. A 1ª parte não foi tão bem conseguida, cheguei mesmo a sentir-me irritado com os inexplicáveis, e pouco habituais maus passes. Na minha opinião o melhor jogador neste encontro foi Nuno Assis, mas dá gosto ver a capacidade que o Rui Costa tem em motivar os adeptos.

Sempre ouvi falar do tempo em que se jogava com “amor à camisola”, e isso todos temos a certeza que Rui Costa tem. Também sempre se falou muito da denominada “mística benfiquista”, termo que nos enchia a boca, orgulhosos no nosso benfiquismo. Essa mística são, as vitória, e jogadores como Rui Costa que a mantém viva. Sou Benfica…

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Poupamos ou gastamos ainda mais?


Depois de uma ida ao supermercado lá fui apanhado por uma daquelas promoções chatas de cartões com descontos magníficos e vantagens estupendas, e em que nos vendem a ideia de que vamos poupar imenso se aderirmos. A meio da exposição da esforçada promotora eis que começo a contrapor o que será verdadeiramente poupar. Tenho, já há bastante tempo, uma ideia formada sobre a poupança que este tipo de cartões podem proporcionar.

Para mim só poderia ser poupar se estes descontos fossem proporcionados ao adquirir bens que fazem parte dos meus consumos habituais, quer dizer das necessidades que tenho que sustentar todos os meses. Assim se os benefícios incidissem, por exemplo, na diminuição do spread do meu empréstimo, nos valores de consumo de electricidade, água, gás, nas compras do supermercado, gasóleo, e por ai adiante. Estas são despesas, em que posso gastar menos e poupar, mas que não posso mesmo evitar.

O efeito de poupança, que estes cartões têm, são idênticos aos dos saldos. Senão vejamos, vezes há em que estamos perante aquele casaco que agora custa menos 50€, e lá acabamos por o comprar. Saímos da loja com a ideia de que poupámos 50€. Mas será que se ele tivesse o preço normal o quereríamos comprar? O que quero dizer é que acabamos por consumir mais do que se não tivéssemos o desconto e, neste caso em particular, acabamos sim por gastar 50€, uma vez que em situação normal não compraríamos o tal casaco.

É lógico que não devemos nos restringir e comprar só o estritamente necessário, se a isso não formos obrigados por carência. Temos direito, e merecemos gozar as coisas boas da vida. E se for com desconto tanto melhor. Mas acaba por ser uma boa táctica de contraponto a estas promoções que não queremos de todo aderir.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Imagino-me a envelhecer…

Imagino-me a envelhecer… numa casa de campo, com alpendre, perto do mar, um terreno de árvores de fruto, trilhos de terra, e um lago. A Costa Alentejana será o nosso refúgio…

(...ainda não aconteceu!)

Mês de Abril do ano 2042. Fiz 66 anos há dias atrás. No último fim-de-semana tive um presente esplêndido com o almoço de família para festejar o meu aniversário. Eu, C, os nossos três queridos filhos, o nosso genro, e o nosso lindo neto. Depois de todas aquelas sensações de agitada felicidade, voltamos agora ao prazer da felicidade tranquila.

Sentado na cadeira de baloiço do alpendre, olho o lago maravilhado pelos reflexos que a luz do sol produz na água. Vejo a mesma paisagem de todos os dias e sempre como se fosse a primeira vez. Levo a caneca do chá aos lábios e sorvo um pequeno gole. Sinto Lenny, o nosso fiel amigo e companheiro de quatro patas, aproximar-se. Senta-se ao lado da cadeira aguardando que a minha mão pouse na sua cabeça, como é habitual.

C dorme tranquila no conforto do nosso quarto. Tal e qual como na manhã após a noite que aqui dormimos pela primeira vez. Há trinta anos atrás. Também dessa vez eu acordei antes dela. Não consegui vencer a ansiedade de poder assistir ao nascer do sol do nosso alpendre. Adorava que C o fosse partilhar comigo, mas não tive coragem de a acordar. Cerca de dez minutos depois, para minha surpresa e alegria, juntou-se a mim.

Perdido nas minhas memórias levanto-me e entro em casa. Lenny segue-me colado ás minhas pernas. Pouso a caneca na mesa da cozinha e dirijo-me ao quarto. Abro a porta e espreito. Vejo que ela ainda dorme. Observo-a por um breve momento e depois encosto a porta levemente.

Saio para a rua com Lenny sempre no meu encalço. Seguimos pelo caminho em direcção ao lago. Lenny distrai-se com pequenas perseguições aos insectos que vamos encontrando na vegetação. No fim de cada uma regressa para junto de mim e salta em minha volta. Agacho-me para o presentear com uma sessão de festas. E assim o nosso passeio matinal vai chegando ao fim. Estamos de novo em frente ao alpendre.

Vejo C sentada na cadeira de baloiço. Acena-me a sorrir. Retribuo-lhe o sorriso. Lenny adianta-se na sua direcção. Subo os degraus do alpendre e chego junto dela. Digo-lhe “Bom dia!”, enquanto lhe estendo as papoilas que apanhei, acompanhadas de um beijo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A música desta manhã…

Esfera – Pedro Khima

Por sinal
Essa esfera que
Me tentava sem me olhar
Nada mais
era do que um som
Que me levava a tentar
Fugir de ti
Sair de ti
Uma vez mais
sem saber porquê
Desisti p'ra te dizer
Nada mais, quero mais
Se não for assim
Esconde esse sorriso
Que me faz querer matar por mais
Mais, mais
Quero mais, mais,
Por isso esconde esse sorriso
Que me faz querer matar por mais
Só assim dá para mim
Conseguir que não doa mais
Que me deixes ir
Que me libertes de ti
Que não me faças sentir
E eu não quero cair
Não me posso entregar
Sem que percebas que não podes julgar
E eu quero tentar
Poder acreditar
Que o aperto cá dentro
Um dia vai acabar.
O monstro em mim
Não irá sucumbir
Não desfalece
Por não conseguir
Que olhes para mim
Que me faças existir
Por isso esconde esse sorriso
Que me faz querer matar por mais
Mais, mais
Quero mais
Mais, mais
Por isso esconde esse sorriso
Que me faz querer matar por mais
Mais, mais
Quero mais
Mais, mais
Por isso esconde esse sorriso
Que me faz querer matar por mais.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Os namoros da música portuguesa


Quando se procura música para oferecer a alguém por vezes acontece encontrarmos relíquias maravilhosas. Músicas que estão guardadas no baú das nossas preferências. Foi o caso de os dois discos que encontrei na Valentim de Carvalho, e que comprei para oferecer à minha mãe quando a for visitar ao Brasil. “Poesia Encantada”, dois volumes com poemas, de grandes poetas portugueses, cantados por intérpretes portugueses. No segundo volume reencontrei este belíssimo “Namoro”, cantado por Sérgio Godinho. O poema é de Viriato da Cruz, poeta nascido em Angola no tempo colonial. A prova de que a música acaba por ser de facto uma forma agradável de divulgar a nossa poesia. Belos poemas tornados ainda mais belos pela música, e no nosso português.

Mandei-lhe uma carta
em papel perfumado
e com letra bonita
dizia ela tinha
um sorriso luminoso
tão triste e gaiato
como o sol de Novembro
brincando de artista
nas acácias floridas
na fímbria do mar

Sua pele macia
era suma-uma
sua pele macias
cheirando a rosas
seus seios laranja
laranja do Loge
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não

Mandei-lhe um cartão
que o amigo maninho tipografou
"por ti sofre o meu coração"
num canto "sim"
noutro canto "não"
e ela o canto do "não"
dobrou

Mandei-lhe um recado
pela Zefa do sete
pedindo e rogando
de joelhos no chão
pela Sra do Cabo,
pela Sta Efigénia
me desse a ventura
do seu namoro
e ela disse que não

Mandei à Vó Xica,
quimbanda de fama
a areia da marca
que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço
bem forte e seguro
e dele nascesse
um amor como o meu
e o feitiço falhou

Andei barbado,
sujo e descalço
como um monangamba
procuraram por mim
não viu ai não viu ai
não viu Benjamim
e perdido me deram
no morro da Samba

Para me distrair
levaram-me ao baile
do Sr. Januário,
mas ela lá estava
num canto a rir,
contando o meu caso
às moças mais lindas
do bairro operário

Tocaram a rumba
e dancei com ela
e num passo maluco
voamos na sala
qual uma estrela
riscando o céu
e a malta gritou
"Aí Benjamim"

Olhei-a nos olhos
sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lá
lá lá lá lá lá
E ela disse que sim

Lembrei-me então de haver um vinil, dos Trovante, em casa da minha mãe, com o tema “Namoro II”. Estou em crer que a intenção foi fazer uma “sequela” do “Namoro” de Viriato da Cruz. São vários os indícios nesse sentido, mais declaradamente nos dois últimos versos. A letra é de Luís Represas, confesso que não sou apreciador de Represas, mas tenho de admitir que o poema é igualmente cativante.

Ai se eu disser que as tremuras
Me dão nas pernas, e as loucuras
Fazem esquecer-me dos prantos
Pensar em juras

Ai se eu disser que foi feitiço
Que fez na saia dar ventania
Mostrar-me coisas tão belas
Ter fantasia
E sonhar com aquele encontro
Sonhar que não diz que não

Tem um jeito de senhora
E um olhar desmascarado
De céu negro ou céu estrelado, ou Sol
Daquele que a gente sabe.
O seu balanço gingado
Tem os mistérios do mar
E a certeza do caminho certo
que tem a estrela polar.

Não sei se faça convite
E se quebre a tradição
Ou se lhe mande uma carta
Como ouvi numa canção
Só sei que o calor aperta
E ainda não estamos no verão.

Quanto mais o tempo passa
Mais me afasto da razão
E ela insiste no passeio à tarde
Em tom de provocação
Até que num dia feriado
P´ra curtir a solidão
Fui consumir as tristezas
P´ró baile do Sr. João

Não sei se foi por magia
Ou seria maldição
Dei por mim rodopiando
Bem no meio do salão
Acabei no tal convite
Em jeito de confissão
E a resposta foi tão doce
Que a beijei com emoção
Só que a malta não gritou
Como ouvi numa canção