- Bem, tu és um bocadito reservado!
Foi esta a frase, comentário, que me despertou. A meio de uma conversa circunstancial numa pausa para café, R atirou-me a frase cheia de certeza. Ainda meio surpreendido respondi-lhe com a pergunta reactiva. “Achas?”
- Acho. – respondeu-me. – Tu és bastante falador, extrovertido, mas nunca dizes nada sobre ti!
Pareceu-me interrogativa. Tive receio de ter vindo a ser observado e poder ter deixado transparecer algo que não queria.
- Parece que está sempre tudo muito bem contigo. Estás sempre muito sereno, muito calmo e nunca falas em nada que te possa ter deixado ficar menos bem.
Fiquei ainda mais apreensivo com o que ela estaria a querer dizer. Não sei se percebeu a minha atrapalhação com a conversa. Na verdade, nem tive consciência na altura, de que me apanhou de surpresa por apreensão do que a teria levado a iniciar aquela conversa. Poderia ela reparar em mim mais do que eu imaginava e talvez interpretar-me de um modo que não supunha, nem desejava. Já não me recordo do que lhe respondi, por certo explicações lógicas que apenas tinham o objectivo de dar a entender que não estava a perceber o que queria dizer.
- Parece-me que não andas bem. A tua alegria não me tem parecido tão genuina.
Sempre fui assim. Reservado. Nunca fui pessoa de expor os meus problemas, as minhas tristezas, oe meus receios e medos. Nunca baixei a cabeça e fiz de coitadinho. Nunca falei nas dificuldades financeiras que tivemos quando a minha mãe voltou a Portugal. Da rejeição que sofremos por parte da minha família por a minha mãe ter voltado divorciada. Da falta do meu pai na minha vida. Nunca falei da falta do meu pai na minha vida. De me sentir diferente na escola por não ter uma família normal. De não ter todos os brinquedos que os meus amigos tinham. Dos amores não correspondidos. Dos namoros falhados. Das dificuldades para poder aguentar-me na faculdade. Da pena que tenho em não ter agora uma situação familiar como a maior parte dos meus amigos, casados e com filhos. E agora a doença do avô M, que me tem deixado tão triste mas que tenho feito por não dar a entender. Principalmente com ele.
A R disse-lhe que deveria ser impressão dela. Que apenas andava muito mais atarefado, com falta de tempo, mais trabalho e muito a aprender nas nova função. Depois que motivos teria? Tinha a minha família comigo. As coisas com C estão bem. Tinha sido promovido e aumentado. E ainda por cima o Verão estava a chegar.
- Pois! Mas nota-se que andas com um olhar triste.
Foi esta a frase, comentário, que me despertou. A meio de uma conversa circunstancial numa pausa para café, R atirou-me a frase cheia de certeza. Ainda meio surpreendido respondi-lhe com a pergunta reactiva. “Achas?”
- Acho. – respondeu-me. – Tu és bastante falador, extrovertido, mas nunca dizes nada sobre ti!
Pareceu-me interrogativa. Tive receio de ter vindo a ser observado e poder ter deixado transparecer algo que não queria.
- Parece que está sempre tudo muito bem contigo. Estás sempre muito sereno, muito calmo e nunca falas em nada que te possa ter deixado ficar menos bem.
Fiquei ainda mais apreensivo com o que ela estaria a querer dizer. Não sei se percebeu a minha atrapalhação com a conversa. Na verdade, nem tive consciência na altura, de que me apanhou de surpresa por apreensão do que a teria levado a iniciar aquela conversa. Poderia ela reparar em mim mais do que eu imaginava e talvez interpretar-me de um modo que não supunha, nem desejava. Já não me recordo do que lhe respondi, por certo explicações lógicas que apenas tinham o objectivo de dar a entender que não estava a perceber o que queria dizer.
- Parece-me que não andas bem. A tua alegria não me tem parecido tão genuina.
Sempre fui assim. Reservado. Nunca fui pessoa de expor os meus problemas, as minhas tristezas, oe meus receios e medos. Nunca baixei a cabeça e fiz de coitadinho. Nunca falei nas dificuldades financeiras que tivemos quando a minha mãe voltou a Portugal. Da rejeição que sofremos por parte da minha família por a minha mãe ter voltado divorciada. Da falta do meu pai na minha vida. Nunca falei da falta do meu pai na minha vida. De me sentir diferente na escola por não ter uma família normal. De não ter todos os brinquedos que os meus amigos tinham. Dos amores não correspondidos. Dos namoros falhados. Das dificuldades para poder aguentar-me na faculdade. Da pena que tenho em não ter agora uma situação familiar como a maior parte dos meus amigos, casados e com filhos. E agora a doença do avô M, que me tem deixado tão triste mas que tenho feito por não dar a entender. Principalmente com ele.
A R disse-lhe que deveria ser impressão dela. Que apenas andava muito mais atarefado, com falta de tempo, mais trabalho e muito a aprender nas nova função. Depois que motivos teria? Tinha a minha família comigo. As coisas com C estão bem. Tinha sido promovido e aumentado. E ainda por cima o Verão estava a chegar.
- Pois! Mas nota-se que andas com um olhar triste.
2 comentários:
Talvez o comentário de R seja fruto de caratcterísticas muito comuns entre o género feminino, mas tantas vezes negligenciadas e mesmo desvalorizadas pelo género masculino: intuição e capacidade de observação.
Às vezes dou por mim a fazer o mesmo comentário com pessoas cujas vidas pessoais desconheço, mas cujos comportamentos são tão transparentes que descortinam o mais puro sofrimento: aquele que sofremos sozinhos, na escurdão dos nossos lençóis.
Assim como não há piores sentimentos para sofrer que a culpa, o remorso, o orgulho ferido, o desgosto silenciado...
Talvez R seja mais atenta com que imaginas ou, pelo contrário, talvez o teu sofrimento hediondo prolongado no tempo esteja a deixar marcas evidentes ao olho mais desprevenido.
Either way, poucas pessoas compreendem que uma pessoa como tu, com tanta riqueza como um emprego que te apaixona, uma família que te acolhe e uma companheira que te ama possa padecer de uma alma que te sangra.
Não és apenas reservado. Reservada, é uma pessoa que leva uma vida dupla ou que tem pouco a esconder.
Tu, Daniel, pensas a tua dor, na solidão dos teus demónios. Vives uma amargura só, mesmo nos teus dias mais plenos de sol.
A ti, não há Verão que te valha.
A ti, resta-te fazer as pazes com o passado e com essa culpa que te persegue.
Tão simples e tão duro!
...a iv
Eu sou um dos que acho que as mulheres estão bem mais atentas a algumas coisas que nós homens. Só que até esta altura não tinha noção de que poderia R reparar no que está por detrás daquilo que deixo ver.
Tenho de facto problemas com o passado, julgo que é mais problemas no passado que me causam problemas com o presente. Mais do que tempo para este desassossego passar, preciso de ter estabilidade em pontos muito importantes, o que actualmente só aparentemente o tenho.
Na nossa vida do dia-a-dia nós construímos várias personagens conforme o “cenário” em que estamos a actuar. Pelo menos eu faço-o. Para a minha família escondo este desassossego para não os ver tristes por mim. Para os meus colegas de trabalho para que não os veja ter pena de mim. Para os meus amigos por um misto de das duas coisas.
R parece ter passado um pouco da fronteira do “cenário” onde contracena comigo.
iv… Obrigado pela tua visão das coisas!
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